Vocês estão matando um brasileiro! — A história de Virgílio Gomes da Silva, um esquecido herói do povo potiguar

Quem foi Virgílio Gomes da Silva?
Virgílio Gomes da Silva nasceu em Sítio Novo — Rio Grande do Norte, no ano de 1933. Esta é uma cidade bem pequena que conta atualmente com cinco mil habitantes. Ainda criança, ele se mudou para o Pará, onde teve de trabalhar nos seringais pertencentes à Ford. Em 1945, voltou para Sítio Novo com a mãe e passaram a viver do trabalho em um pequeno lote de terra.
Em 1951, assim como muitos nordestinos, Virgílio se mudou para a cidade de São Paulo, onde teve vários trabalhos e firmou contato com o Partido Comunista do Brasil (PCB). Se tornou militante do partido e sindicalista e era um quadro muito importante do movimento operário, liderando greves pela conquista do 13º salário para os trabalhadores em 1963. Em 1964 foi cassado e preso junto com toda a diretoria do Sindicato dos Químicos e dos Farmacêuticos de São Paulo.
Dias depois, posto em liberdade, decidiu ir para o exílio no Uruguai, mas voltou ao Brasil e se engajou na luta armada na Dissidência de São Paulo (que mais tarde se tornaria a Aliança Libertadora Nacional — ALN), encabeçada por Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira. Foi um dos primeiros a ir para Cuba treinar e por ordens de Marighella encabeçou o primeiro Grupo Tático Armado (GTA).
Em 1969, participou de uma das ações mais importantes de sua vida, o sequestro do embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick, trocado por diversos prisioneiros políticos. No mesmo ano, no mês de setembro, foi preso e levado à sede do DOPS onde foi barbaramente torturado pelos verdugos do regime militar. Morreu após 12 horas de espancamento e tortura ininterrupta. Segundo relatos, Virgilio, ou companheiro Jonas, como era chamado, gritava para os seus algozes: Vocês estão matando um brasileiro!
Hoje, os militares, as polícias, os pistoleiros, todos pagos pelo velho Estado e liderados pelas classes dominantes e pelo imperialismo, continuam a matar brasileiros, principalmente no campo, aos montes. Que mudou da Ditadura para cá? Apenas buscaram maquiar os massacres com políticas burocráticas e reformistas. Os democratas não aceitam esse caminho, combatem-no, pois veem as mentiras que o sustentam.
Difamação oportunista
Anos após a morte de Virgílio, chega às telas de cinema um filme chamado “O que é isso companheiro?”, do diretor Bruno Barreto, baseado no livro de mesmo nome do “guerrilheiro arrependido” Fernando Gabeira. Neste filme, Virgílio é tratado como um vilão que quase tortura o embaixador e xinga os seus companheiros, tudo para reforçar o ideal de “bom moço” que representa o pequeno-burguês Fernando Gabeira. O filme é cheio de inconsistências e erros históricos, insultos aos militantes que deram suas vidas por um Brasil melhor. Entre tantas outras coisas, insinuam que uma guerrilheira do MR-8 dormiu com um empregado do embaixador para ter acesso as informações.
A família de Virgílio abriu um processo contra o filme por difamação. É curioso como os oportunistas gostam de torcer a história para que os revolucionários se tornem vilões paranoicos e os traidores se tornem heróis. Exaltam Gabeira o filme todo como um herói. Em uma das últimas cenas ele afirma: foi só um sonho que não deu certo. Pois é exatamente isso que os reacionários querem ouvir, é exatamente isso que eles querem que seja ensinado, que os heróis tombados na luta contra a ditadura eram apenas idealistas de uma utopia que nunca deu certo, enquanto para os intelectuais e militantes honestos desse país uma coisa é clara: o Brasil precisa de uma grande Revolução. Devemos finalizar o trabalho que estes heróis começaram, dessa vez sob a direção consequente da vanguarda do proletariado, o Partido Comunista.
Dedico este artigo a Virgílio e a todos os guerrilheiros que verteram seu sangue na luta contra a ditadura militar fascista implantada no nosso país através do golpe de 1964, suas mortes não foram em vão.
Por: Sebastião Illari